10.29.2009

encontros e desencontros II

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era oito da manhã quando ele acordou. olhou pro lado, e não a viu. levantou-se, e só percebeu silêncio, e dela só havia o cheiro. viu de longe um papel, e no mesmo instante que viu que era um bilhete seu coração disparou. pegou a fotografia e o bilhete escrito em linhas tortas, suas mãos tremiam, sentou-se, e começou a ler. seus olhos não piscavam e ardiam. sentiu um nó na garganta, achava aquilo tudo um absurdo. ele tentava acreditar que era apenas uma piada, e que ela tinha ido apenas comprar café, ou cigarros, ou algo assim. mas a cada palavra que ele lia, ele sentia o nó se desatando em lágrimas. acendeu um cigarro, e confuso, leu novamente o bilhete, deixou cair no chão a fotografia, sentiu um gosto salgado na boca, era um gosto de lágrima que ainda não desceu. caminhou até a varanda, e viu que ela havia deixado a fivela em formato de cereja, que deixou cair do cabelo, enquanto faziam amor. ele ficou um tempo sentado na cadeira preguiçosa da varanda, absorto, segurando numa mão a fivela, e noutra mão um cigarro.

foram muitos cigarros, e muitos cafés aquela manhã, tanto que seu estômago doía. nunca tinha se sentido assim, vazio, incompleto, confuso, sem saber o que fazer. não sabia onde procurá-la, em que lugar ir, não podia recorrer a lista telefônica, afinal, a conheceu no meio da rua, onde ele a encontraria? ele tinha tanta coisa a dizer, tantos planos e tantos beijos guardados pra ela. se culpou por não ter acordado antes, se chamou de estúpido, e caminhava freneticamente de um lado pro outro. chegou a pensar no clichê 'o tempo cura tudo', mas ele não queria ser curado, ele não queria esquecê-la, ele queria uma possibilidade, um meio de encontrá-la. daria qualquer coisa pra ver de novos as maçãs rosadas do rosto dela. faria qualquer coisa pra ouvir de novo a voz rouca dela chamando 'baby' que o fez se apaixonar quase que instantaneamente. enquanto ele pensava numa maneira, ele revivia na cabeça todas as cenas que eles passaram juntos, e quase pôde sentir o cheiro dela. não sabia se chorava ou se sorria, mas prometeu a si mesmo que alguma coisa faria pra encontrá-la novamente. passaram-se dias, semanas, e ele sempre andava pelos mesmos lugares na esperança de reencontrá-la. por vezes, ele sentia a sensação de que ela estava por perto, mas sempre voltava pra casa mais solitário e vazio. ele acordava e olhava pro sol, e se perguntava porque o sol ainda brilhava pra ele, se ele tinha perdido no dia que encontrou seu novo motivo pra sorrir. ele comia maçãs pra sentir o gosto doce dos beijos da  sua menina que foi embora. ele nunca havia comido tantas maçãs na vida! cravava seus dentes nas maçãs vermelhas, e ouvia o som da risada dela.  parecia um bobo, um idiota. um certo dia, caminhando numa dessas avenidas movimentadas ele achou que tivesse a visto, talvez fosse ela, ele não sabia, ele correu, acenou com a mão, mas a perdeu de vista. ele chegou a sorrir de si mesmo, por não saber o que acontecia dentro dele pra agir assim, como um louco, ele mal a conhecia! ficou pensando nessa maluquice toda voltando pra casa, então passou na frente de um buteco e sentiu vontade de beber e maldizer a droga do amor, entrou no bar e sentou-se no balcão, pediu uma cerveja, e tomou num folêgo só, pediu outra, e acendeu um cigarro, pensou em como os românticos são escravos de suas paixões, e sentiu vontade de viajar para bem longe, romper todos os laços com todos, mas o que ele queria mesmo, era gritar o nome dela bem alto, de modo que ela escutasse, mas como? se ele não sabia o nome dela? ele se sentia uma metade perdida, e não conseguia explicar a si mesmo como a memória de apenas um dia perfeito, poderia machucar tanto um coração que já estava cansado de amar errado. pediu mais uma cerveja, e mais outra, e mais outra. ele se sentia exausto de construir e demolir fantasias. ele tentava enfiar na cabeça que era natural as pessoas se encontrarem e se perderem, e enquanto mais tentava, mais queria encontrá-la. já estava bêbado, e foi cambaleando pra casa. mal entrou porta adentro já foi logo se jogando na cama, sem entender mais nada de suas emoções. dormiu. quando acordou, com fortes dores de cabeça, num extremo momento de lucidez, decidiu que seria o último dia que a procuraria por todas aquelas ruas cinzentas em que ele a procurava quase todos os dias. vestiu a mesma roupa que estava quando a conheceu, e saiu com o coração em brasa, levando no bolso a fotografia que ela havia deixado, um maço de cigarros, e sua última esperança. pela milésima vez, sentou no mesmo café e na mesma mesa em que ela tirou a primeira fotografia deles, tudo na expectativa de vê-la entrando pela porta, com suas duas lindas maçãs no rosto e um sorriso que iluminava qualquer canto triste. esperou, esperou, tomou um café, dois cafés, e já doía por dentro aquela despedida solitária. o sol já estava indo embora, quando ele pediu um papel e uma caneta a garçonete. e na vã esperança dos que amam sem entender porque, escreveu:



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' nunca entendi porque você foi embora daquela maneira. todos os dias até hoje te procurei. um dia achei ter te visto, mas me senti ridiculo tentando chamar um nome que não sabia. a verdade é que não sei mais de mim sem ti. é que tudo de ti ficou em mim. eu amei aquela manchinha que você tem entre um seio e outro, e amei também seu jeito desajeitado de fazer um rabo-de-cavalo que ficava torto. amei sua paixão pela primavera e seu jeito humano e engraçado de falar da vida. amei seus suspiros e seus gemidos. amei o muito ou pouco que conheci de ti. você acha que não, mas eu teria amado você e seus defeitos. porque você não é perfeita, e eu te amaria em todas as suas imperfeições. até no seu pior dia. sim, eu te amaria. não sei como cheguei até aqui, e talvez você nem pense mais em mim, mas até o dia de hoje, eu te desejei. e se um dia você chegar a ler esse bilhete, saiba que mesmo sem querer e sem saber, você foi amada, e se não for tarde, e não tiver passado muito tempo, me procura, e a gente recomeça de onde parou.


um beijo na maçã direita do seu rosto, Dylan.'
-


então chamou a garçonete, e pediu-lhe um imenso favor. mostrou a foto dos dois, e insistiu que ela ficasse com o bilhete a fotografia, e pediu que ela entregasse, caso ela aparecesse. pra surpresa dele, a garçonete a reconheceu, e disse-lhe que ela de vez em quando aparecia por lá, e ficava horas e horas, como se esperasse alguém, e na última vez ela havia esquecido uma chave, e provavelmente ela voltaria pra buscar, só não sabia quando. ele sorriu, como há tempos não sorria. e saiu do café, sentindo-se livre do peso de toda a incerteza que ele carregava no peito.






Por entre flores e estrelas
Voce usa uma delas
Como um brinco pendurado na orelha(...)
Belezas são coisas acesas por dentro
Tristezas são belezas apagadas pelo sofrimento
Lágrimas negras saem, caem, dói
Lágrimas negras saem, caem, dói
Otto










[continua...]





21 comentários:

  1. nossa, luna
    essa estoria tá cada vez mais perfeita e detalhada *--*
    esperando a continuação da continuação :B

    beeijas ;*

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  2. Por essa não esperava. Boa! Legal ele ter escrito a carta!

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  3. Adorei a garçonete! é linda ela. hehehehe

    ja que num sai mais do Infinitivamente pessoal, aproveita e visita o "Ouro de Mina", que é de contos e poesias.
    Tem orkut? hehehe

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  4. Que bom que ele escreveu algo, e ainda bem que a garçonete foi gente boa. :D

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  5. ô, gente, eu não ia escrever continuação, nem sei ainda se sou boa com continuações, ou com coisa alguma,rs, mas o que vale é imaginação, então tô tentando. não sou muito de comunicar com todo mundo a não ser por comentários, mas eu me emociono deveras, com todos os comentários que fazem, fico extramamente feliz, de sorriso o dia todo. essa história ainda não tem continuação, acho que o destino vai ser dicidir, rs.

    um beijo imen-so em todo mundo.

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  6. passa la de novo no ouro! acabei de postar!
    hehehehe

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  7. adoráveis imagens, sons, citações, convites a viagens...seu blog é todo todo bonito.
    beijos.

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  8. Precisa escrever um livro. Tenho certeza que se sairiam muito bem, principalmente se falar sobre a menina que gosta de Lennon.

    Beijos

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  9. Olha,pode até ser clichê,mas que o tempo cura,ah isso cura...

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  10. Luna, continua!!!
    Diz que eles vão se encontrar, diz que pelo menos aqui alguém vai ter um final feliz.

    Te leio urgentemente!

    Beijo-beijo

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  11. li os dois textos juntos, um na sequência do outro, e meus olhos estão úmidos...

    parabéns pelos textos, Luna!
    parabéns pelo blog!

    beijos

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  12. bem, eu sou completamente viciada em oth *-*
    então minha opinião é que sim, é muito bom :)

    beeijas luna ;*

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  13. esse é o template mais lindo que já vi~

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  14. esa é a arte da vida, não?
    é como sentar num banco e ver alguma mensagem de amor lascada e de repente... aquela pessoa que ao fundo de longe passa, pode ser se amor...

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  15. A vida é a arte do encontro, embora haja tanto desencontro

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  16. caramba, que blog ótimo. Parabéns por escrever tão bem. Voltarei sempre. Tenho muitos contos legais pra ler aqui. Lembrei do filme Serendipiti ao ler esse conto.

    Abraços.

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  17. Tadinho dele... Às vezes os caminhos se afastam, mas sempre existem as encruzilhadas.


    Espero ansiosamente a continuação!
    Beijo, Lu. Ótimo texto.

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  18. Awnt, que lindo! Lindo, lindo, lindo *o*' Extremamente perfeito *o*' Estou seguindo õ/
    Beeijos ;*

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  19. isso está me deixando ansiosa demais! *-*

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- me concede uma dança?

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