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era uma vez uma garota que não tinha família. era filha única de pais mortos - eles morreram num acidente de carro quando ela ainda tinha dezoito anos, deixando-a sozinha, mas com uma boa herança - era mesmo abastada, no entanto não tinha apego a coisas materiais. morava no vigésimo sétimo andar, no fim do corredor. era uma pobre garota rica com uma beleza de 27 primaveras. seu corpo era mignon e sua pele era clara. seus olhos eram redondos como um botão, e seus cílios longos e escuros, o que tornava seu olhar expressivo, embora ela tentasse esconder com um óculos de grau. seus lábios eram acarminados, e seus dentes eram perfeitamente alinhados, porém era dona de um sorriso extremamente contido. sempre baixava os olhos ao sorrir, e era de uma mudez incompreensível. ela tinha amigos, no entanto ela preferia mesmo estar sozinha com suas leituras e seu blues. ela amava o blues, e todos os dias o ouvia, tomando um café amargo e forte. nunca aderiu a modernidade, e gostava de ouvir música no toca discos. sentia-se cada vez mais distante do mundo e acreditava pertencer a outra época. ela carregava no olhar uma indefinível melancolia, e por isso alguns a julgavam apática e indiferente. ela não esperava que os outros a achassem extraordinária, e tampouco esperava que algo inefável lhe acontecesse, contudo isso não lhe compungia o coração. ela não fantasiava beijos efusivos e não guardava no seu íntimo desejos ávidos. teve alguns namorados, mas nunca amou de verdade. seu único e verdadeiro sonho era ter sensualidade à flor da voz, para que ela pudesse cantar e comover tal qual Nina Simone. infelizmente sua voz era doce e baixa, e seu sonho jamais se realizaria. nas vezes em que ela se permitiu sair do seu mundo, ela sucumbiu ao álcool e ao cigarro com seus poucos amigos, que o tempo todo lhe chamavam a atenção, pois enquanto eles tagarelavam e gargalhavam com tolices, ela permanecia absorta. ela sorria pouco, e quando o fazia, era breve, escondendo sempre seu doce sorriso. numa tarde - dessas com um cenário lindamente clichê - ela colocou Robert Johnson pra tocar - me and the devil blues - acendeu um cigarro, tomou devagar uma taça de vinho, cerrou os olhos, e dançou com a alma. abriu a janela, respirou fundo, e sorriu. então subiu no parapeito, olhou pro céu, e gargalhou debochada, como nunca havia feito antes. com os olhos fechados, abriu os braços, sentiu o blues, e se jogou. a garota do fim do corredor morreu de forma poética e assustadora, deixando todos estarrecidos. não deixou bilhete. deixou apenas um blues tocando, um cigarro pela metade, e uma taça de vinho seco com marca de batom vermelho no criado mudo.
alguns vizinhos a chamavam de 'a garota sem alma', o que ninguém sabia, é que ela era apenas alma, e sua alma, era puro blues.
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O final realmente me surpreendeu mais do que o normal, não acreditei quando ela se jogou. Ela não parece com o tipo que se jogaria do parapeito. Mas eu adoraria tê-la conhecido.
ResponderExcluir;**
P.S.: perdeu mesmo seus arquivos?
Eu me jogaria junto, porque sei bem o que me abraçaria lá embaixo. Não doeria.
ResponderExcluirconheço milhares de pessoas assim. todos nós temos um pouco dela. Junior Weells, por favor.
ResponderExcluirPassando pela manhã, só para deixar um beijo e saber que a inspiração, pelo menos no seu entendimento, já voltou. Pra mim, voce sabe, ela nunca saiu de ti.
ResponderExcluirBeijos.
Ivan.
Putz!
ResponderExcluirMe identifiquei total..
que coisa...
beijos
faxina
fim surpreendente.
ResponderExcluire quem não tem vontade de se jogar do para peito de vez enquando...
Intenso e sem dor. Adorei
ResponderExcluirNem sei o q dizer. To impressionada ate agora.
ResponderExcluirO final foi surpreendente. Nao esperava msmo!
vc escreve mto bem SEMPRE.
A sua alma era triste (?)
ResponderExcluirEu queria tê-la descoberto antes,para salvá-la,ou pular junto...
ResponderExcluirPosso dar uma dica?Etta James no player ali do lado.
E eu tbém parei com essas coisas Luna.Esse ano é o último,aí o ano que vem é a saídeira e deu.
Ae, tá viva de novo hein! bjs
ResponderExcluirAmeeeeei.
ResponderExcluirE o final foi surpreendente e muito bom.
Bela escolha de palavras.
Já virei fã do blog hehe
bjs
Me lembra a guitarra triste de Mudy Waters, e a voz macia de Gladys Knight.
ResponderExcluirAos domingos de manhã quando acordo sozinho repito o mesmo ritual que ela.
adorei
E lá se foi... para os braços do blues!
ResponderExcluirFim surpreendente, no fundo a garota tinha a coragem que que faltava nos amigos 'ousados'...
ResponderExcluirPerfeito!
Beeijos!
é que se a gente tivesse mais alma para dar, daria.
ResponderExcluirum beijo, minha querida!
Talvez o corpo sem sensualidade (segundo sua própria ótica) pesasse muito para uma alma tão leve, tão solta.
ResponderExcluirAdorei, moça do nome bonito. ;)
* A perna tá melhor, flor : começo fisioterapia amanhã. Obrigada por perguntar.
Dois beijos de boa semana.
ℓυηα
Talvez desse pra conciliar o corpo e alma,se realmente tentasse.Sei lá,tenho medo de suicídio,mesmo dos leves.
ResponderExcluirO mundo era dela, só dela, O fim foi perfeito pra ela.
ResponderExcluirnão sei pq, mas da metade do texto em diante já dava pra ter noção de que ela se entregaria ao blues, desejo de viver dançando...
ResponderExcluirbjs
putaquepariu.
ResponderExcluiresse é um dos raros escritos que me faz arrepiar.
arrepiei.
um beijo.
Oi Luna, tudo bem?
ResponderExcluirPelo visto já arrumou seu computador.. fico feliz com isso.
Decidimos o nome da banda e valeu pelo comentário. Pode sugerir pro seu irmão sim o nome CANALHAS BASTARDOS pois decidimos outro DESUIT, mas ainda pretendo escrever uma música com esse nome ou gostaria que fosse nome de um álbum nosso. Sonhar faz parte né?! hehe
Depois venho comentar com calma sua postagem já que sumi daqui uns 5 dias.
Beijos
Luna!
ResponderExcluirQue texto lindo lindo lindo..
Não tem o que falar de bonito depois disso. (:
beijosbeijos
Olhos esbugalhando a cada frase, sorrisos (sem o charme de olhar para baixo) e arrepio dos pés ao ultimo cabelo.
ResponderExcluir(:
arrepiei...
ResponderExcluirhá um grande mistério entorno aos suicidas.
talvez se ela soubesse a própria alma
saltasse só no olhar.
e eu ainda tive uma ponta de esperança de que ela fosse conseguir mudar, ou pelo menos se socializar mais. sei lá, tenho mania de finais felizes .-.
ResponderExcluirpulou parapeito, pulou a história e chegou lá embaixo, no final. final de todos.
ResponderExcluirQue fim trágico.
ResponderExcluirMeus olhos lacrimejaram, no final.
Ando tão sensível, que nem a novela das oito estou conseguindo assistir.
- Segue aqui, um pequeno desabafo -
A mãe da menina que sofreu o acidente, fica se lamentando pelos cantos, questionando os porquês, e não faz idéia do que é sofrimento de verdade. (Nem eu sei, de fato)
Mas presenciei. E a dor de uma mãe que perdeu a filha, dói até hoje em mim.
Suas palavras trazem doçura, pendurada nelas, Luna.
Dois beijos
a minha é puro jazz
ResponderExcluirQue forte! Me tirou o ar. {adoroooo coisas bem escritas}
ResponderExcluirDe início achei que tinha algo de auto-biográfico aí, mas queira Deus que você ainda tenha muita vida.
Mas que também tenha blues... e discos na vitrola {você tem vitrola?}.
Ah, fico feliz - mesmo - por sua inspiração ter voltado. Sorte nossa!!
bjs :*
não dá pra nao adorar seus textos!
ResponderExcluirTriste, a moça.
ResponderExcluirMais tristes ainda os outros que a viam passar a não faziam nada... a deixavam ir. Então ela foi. SE FOI.
Ficou lindo Luna, como tudo.
Lindo.
ResponderExcluirAlgumas pessoas são estrangeiras nesse mundo. Nenhum lugar é a sua terra.
Talvez essa garota transcendeu, talvez fosse uma visionária.
Abraços.
Proposta aceita.Mas bom mesmo seria se fosse indecente...
ResponderExcluirassustador, mas mesmo assim, lindo!
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